Pe. Antonio Clayton Sant’Anna, C.Ss.R
A Palavra relíquias significa: restos, partículas, coisas sobrantes. È uma tendência natural do ser humano conservar objetos, lembranças e coisas pessoais dos falecidos queridos ou insignes. Essa prática passou à piedade popular cristã mediante o culto aos Mártires. Venerar nas catacumbas o corpo dilacerado pelas feras no Coliseu romano era contagiar-se de sua coragem e pedir suas preces junto a Deus. Mais tarde a Igreja embutia nos altares consagrados para a Eucaristia um fragmento de osso, a Relíquia de um Mártir ou Santo.
Enfim, os povos cultivam a memória de seus heróis, guerreiros e outros porque souberam dignificar a vida por gestos de nobreza, por virtudes e valores morais. Por isso guardam num Memorial os pertences simbólicos (as Relíquias...) de antepassados ilustres. Tais coisas e lembranças tornam-se um 'veículo de comunicação', revivem a presença deles. Como que renascem do passado! O Memorial lembra o mito antigo da fênix, ave mitológica que renascia das cinzas. Conforme a lenda, ao fim de um ciclo de vida, fênix incinerava-se para recomeçar outro a partir das próprias cinzas. Escritores cristãos dos primeiros séculos viram aí um símbolo da Ressurreição de Jesus. Não há Relíquias de Cristo: vestes, ossos, objetos (o Santo Sudário ainda é objeto de pesquisa e estudos).
'Mas, para quem Nele crê e O segue, tudo é Relíquia Dele, do Seu Mistério, do Seu Corpo humano glorificado na Ressurreição. Para nos Ele deixou os Evangelhos. Daí vieram os escritos e reflexões teológicas posteriores; a literatura, a pintura, a arte cristã de todos os séculos, bem como o testemunho da vida cristã professada até o martírio em todas as raças, culturas, profissões, idades e condições sociais. Como a seiva da orquídea vem substrato para vicejar e se renovar assim a comunidade cristã vem do Evangelho é por ele se mantém. O Evangelho é o substrato das flores bonitas geradas no testemunho de vida dos discípulos. Eles difundem o perfume de Cristo em todas as épocas da História (2Cor 2,5). O corpo do batizado ao renascer das cinzas do pecado pelos méritos de Cristo é vocacionado para superar a morte. Somos as “relíquias” do Senhor ressuscitado. "Vós sois o templo de Deus o Espírito Santo habita em vós" (1Cor 3,16). Em resumo, é legítimo o culto às Relíquias se nos levarem à vida espiritual do Santo. É errado supervalorizá-lo ou usá-lo por crendices, ignorância religiosa, prática supersticiosa ou cobiça de coletas. As Relíquias podem ser expostas e veneradas desde que sob a orientação e aprovação das autoridades eclesiásticas.
Mais do que a um objeto a veneração se dirige à dignidade pessoa humana. Ela é 'partícula' do amor criador divino, é “relíquia" de sua misericórdia. E Maria é o relicário em que Deus nos deu Jesus!
(Artigo publicado na revista de Aparecida (ano 10-Nº116 novembro de 2011)
Fotos feitas por Regiane Estevam (sob minha direção) Relíquia que se encontra no lar dos idosos Nossa Senhora de Lourdes do CC de Nova Lima.
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